(livro: Quem me roubou de mim. Autor: Pe. Fábio de Melo)
Acabou a estação e começa um novo ciclo.
Sei o quanto espera e espero igual, mas os sonhos estão cada vez mais distantes e me pego pensando em tanta coisa... Tanta coisa.
O sons e a vida tem feito pouco sentido, sei também que seus dias têm passado lentamente e sem propósito. Há sim dias estranhos, com nuvens carregadas e uma sensação no ar, de que nada parece fazer sentido.
Queria ouvir tua voz, saber que ainda se importa e que sempre se importará. E se der vontade de chorar, tudo bem, já que dizem que chorar faz bem, faz de tuas lágrimas o escape para as dores.
Seu medo e sofrimento, com o passar do tempo, virará acomodação, a dor insuportável é velha amiga, como quando a gente se acostuma com barulho da obra ao lado.
Tuas coisas foram dadas, doadas e vendidas, mas certas coisas nunca passarão. Olha como a vida é frágil, como os encontros e as despedidas são inúteis: Poderia ser tudo diferente, mas nunca será, nunca foi, aliás, nunca é nunca e sem qualquer convicção eu me vou na certeza que nada disso é correto.
E se der vontade de chorar?
Arranco as pétalas do tempo, nesse mau e bem-me-quer, sem querer, na verdade, ver o tempo passar. As relações humanas e seus fios de incertezas, como não disseres adeus olhando nos olhos, permanece em mim a profunda certeza que poderia ter dito algo mais.
Já não vale a pena sofrer, nem ter desencanto, se sozinho no seu quarto ou perdido na multidão, se te arrancam sorrisos forçados ou se teus olhos denunciam o cansaço. Pare! Nós podemos ser frágeis, essa capa se acaba e não vale nada. O amanhã é um país distante e nem sempre tem voo disponível.
Mas se realmente der vontade de chorar, então, qual problema? Chora teu dilema, dilacera teu pensamento e dilata teu coração, o choro é estranho e o sofrimento esquisito, mas é o que nos deram os deuses de alento, quando não mais couber isso tudo; Eis a única solução.
Se prostrado na frente da tua cama, uma prece ou oração (esquecida) fizer mais sentido que isso, não há problema.
"Joana era casada há 10 anos com Miguel. Casal perfeito, viajavam juntos, faziam compras juntos. Ele a via como a mulher da sua vida e, se possível, da outra vida também. Se conheceram no colégio, namoravam desde os 14. Ele nunca conheceu outra mulher, por isso idolatrava Joana como a uma deusa, também pudera ela era "como cheiro de primavera, férias de colégio, um sorriso que matava qualquer dor, um abraço que sufocava qualquer saudade. Um cheio que é impossível descrever... Tudo nela é perfeito, seus cabelos escuros, sua pele de seda," nas palavras dele. Para Miguel, sua vida está completa, tem a mulher que ama, um trabalho que lhe sustenta e agora quer ter um filho, só faltava escrever um livro e plantar árvore.
A idolatria de Miguel era tão grande que Joana, a seus olhos, não tinha defeito, o amor era perfeito e sem poréns. Claro, ele tinha aquela sensação de completude, acordar e olhar nos olhos de sua amada, beijá-la, mesmo ela reclamando que tá com bafo... Para ele, isso era maravilhoso. No sexo, não importa a ordem das coisas, ela lhe dava prazer imenso. Agradecia a Deus todo dia por aquele sonho.
Joana, coitada, já não aguentava mais ter que ir a todo lugar com Miguel, "Porra, até no supermercado" esbravejava ela. Queria um tempo para ela, queria sentir algo a mais, enfim, nem ela sabia explicar. Mas não sabia se conseguiria viver a vida toda com ele, como, tipo, uma obrigação, como se fosse uma imposição dada pelos outros e até por ela mesmo. Ela conheceu outro homem, e parece que este sim pode ser o amor de sua vida, ou não, é só o cara que ela queria estar agora.
Miguel não é uma pessoa ruim, mas é que Joana, quando olha pra ele, não vê mais o que via. A vida foi passando e ela se acostumou, mas agora se deu conta que queria ter um tempo pra ela mesmo.
E essa mania dele de beijar de manhã ainda com bafo, nossa, acaba de verdade com o dia da Joana.
E no sexo... ela sente invadida, ultrajada, torcendo para acabar logo... Não é que Miguel não seja um bom homem, um bom amante, na verdade é que Miguel não é o outro, só isso.
O retrato da vida deles não é uma moldura perfeita, veio com milhões de problemas e expectativas de todas as partes... Joana segue infeliz, Miguel radiante... E a vida vai passando.
Certo dia Joana foi encontrar o outro, mas esqueceu que estava com o celular de Miguel, que tentou ligar e não conseguiu, mas como precisava muito; deu um jeito de encontrar a localização e foi buscar onde estava. Era uma casa estranha, de ninguém conhecido de ambos.
Foi bater na porta, mas algo gritou dentro dele "Entra, tá aberto" era Deus ou o diabo, não importa. Miguel tomado por um medo repentino, começou a tremer desmedidamente, começou a suar frio... sua boca estava seca, sabia o que algo estava estranho, mas em um ato de sabe se lá o que pediu a Deus para não ser o que imaginava, por um momento sentiu vergonha de pensar isso da Joana.
Já que estava ali, já que havia entrado na casa de alguém sem permissão, iria até o fim. Andou com cuidado para não esbarrar em nada, passos lentos e sem qualquer confiança. Parou por um momento segurando com uma das mãos na fria cadeira de metal. Baixou a cabeça, respirou, ou tentou respirar.
O barulho que vinha do quarto ficava maior (e pior). A porta estava entreaberta, roupas pelo chão, era como se não tivessem tempo de pensar em mais nada e quando avistou sua amada se entregando a outro, de forma louca e selvagem, como nunca mais fizera com ele. Suas vistas escureceram, o mundo começou a não fazer sentido, paralisado só podia ouvir seu coração batendo em um ritmo alucinante. Em uma fração de segundo imaginou toda sua vida com Joana, toda sua história, todo o futuro que viria em quantas vezes ouviu "eu te amo" da boca que agora gemia para outro.
Sentiu-se um lixo, um humano incompleto. As perguntas de costume "o que eu fiz de errado" e etc.
Agora começou a raciocinar, esqueço isso e continua com seu grande amor, ou deixa seu orgulho de homem falar mais alto e confronta... " (continua... Ou não)