quinta-feira, 8 de junho de 2017

Metálico

Mesa de bar, um rosto surrado e um cigarro à meia luz se apagando como o brilho do olhar e a lâmpada que o garçom fez questão de desligar para me por para fora...
Varrendo o chão lentamente e me olhando, em seu pensamento; misto de 'pobre diabo' e 'diabo pobre'.
Essa resquício de uma tarde melancólica e parada, com o vento soprando o próprio vento para frente.
Nas casas as placas de "vendo" no meu peito o maior descontentamento que existe.
Onde você está agora? Qual rua? Qual praça? Qual esquina? Imagina se eu soubesse... não iria te ver, mas me tranquilizaria qualquer noticia do seu paradeiro.
O garçom compadeceu da minha tristeza, estampada no meu semblante estúpido, mas estava mais consternado com seu sono e cansaço, me deu um abraço, a conta e um até logo.

Eu vaguei por horas, e cada demora em um bar, um copo do pior conhaque me fazia sentir melhor, perto do dia, amanheci...adormeci largado na sarjeta, me poupem dos seus medos e penas, eu estou onde queria estar...

Já recuperado e sujo, em casa sentando na cama com um vinho barato no chão, não me arrependo de nada, as feridas e frustrações que trago na pele poderiam me inibir de repetir, mas a noite o corpo implora para alma deixar sair, quando não dele mesmo, de casa.

Enquanto a tarde não acaba, eu grito essa merda toda, misantropia e distimia, arritmia do meu coração sem cadência, compasso e interesse. Quero que esse  mundo e e esse vinho acabe num gole, que a vida me implore perdão e paciência.

E o que me traz dor também me alivia, mesmo a fonte das lágrimas é onde limpo minha alma, deixa eu traduzir: o mal que vem de você também me traz paz, ora me faz rir. E o barulho da tua voz, e esse meu desejo imundo, daria sim, meio mundo por um abraço mudo.

A promessa de um amanhã melhor não fará o hoje melhorar, ainda assim alivia saber que amanhã chegará. Mas que besteira eu estou pensando... o vinho acabou, nos teus dedos o desejo é colocado na boca, e eu com a voz rouca penso nunca ter visto isso antes. São os desenhos que teu corpo tem na escuridão que deveriam tocar minha pele, e quando besteira em tão pouco tempo a gente já se sente eterno...
Perdão, quando chega o fim da bebida a gente pensa como se fosse no fim da vida, procurando correndo outro bar, antes que alguém nos encontre.


Nenhum comentário:

Postar um comentário