segunda-feira, 13 de abril de 2020

O velho e o poema bíblico.

Fale comigo quando amanhecer, me acolha no teu ventre e tuas mãos, porque a chuva tem cheiro de solidão e o dia quente pode me fazer cair num abismo.
Eu insisto, dê-me toda atenção que puder, ainda que com olhos fechados, pois não estou cobrando todo amor já dado; é que o futuro é incerto e presente inesperado.
Tenha compaixão dos meus erros tão humanos, dó da minha possessão, sou frágil como o tempo de colégio, saudoso como domingos adolescentes, sou o vento soprando maldoso dizendo que as horas se passaram junto com a vida, que mesmo perseguida, chega depois ao seu destino.

E não te esqueces, pois sei que perdíamos horas contando os esquadros das paredes, mais ainda o vento que balança as folhas do coqueiro alto... tudo isso se esconde no bolso do meu paletó quadriculado, envergonhado na minha boina surrada, sapatos marrons de cetim, encorajando as velas e a lentidão dos meus passos.

Estou quieto e compreensivo, nem me lembro de muita coisa que finjo ter existido, mas eu, hoje, rio muito, quando lembro que já fui possessivo.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Sem um título para os que se foram

Coisas que se resolvem com o tempo, só com o tempo pra resolver, não posso apressar se eu não tenho condições de resolver nada agora, não posso querer ser o vento se eu estou parado vendo a chuva passar.

Orando de pé ou correndo sem direção, todos somos a mesma essência, sorrindo para esquecer ou chorando por quem se foi, a gente treme e sente que o medo pode ficar pra depois.
Queria teu sorriso e tua sombra, teu abraço apertado quando faltou luz, mas eu não tenho paz e paciência, quanto mais tua presença.

À beira de um abismo a única maneira de seguir em frente é dar um passo para trás, e ouço ainda mais tuas palavras mordazes que fazem todo sentido, pois o que nos une pode muito bem nos separar.
Pois prefiro estar longe a nunca mais poder te ver.

Eu tenho um coração que vibra e se apavora fácil, pois tenho medo do sul e do céu que  há por vir, das cores dos olhos e dos prédios altos.

Mas no verso verde, dentre e entre teus templos, espero e quero, ao mesmo tempo que não quero e não espero... Vai saber, se a vida corre, a gente morre e tudo fica pra depois.