segunda-feira, 13 de abril de 2020

O velho e o poema bíblico.

Fale comigo quando amanhecer, me acolha no teu ventre e tuas mãos, porque a chuva tem cheiro de solidão e o dia quente pode me fazer cair num abismo.
Eu insisto, dê-me toda atenção que puder, ainda que com olhos fechados, pois não estou cobrando todo amor já dado; é que o futuro é incerto e presente inesperado.
Tenha compaixão dos meus erros tão humanos, dó da minha possessão, sou frágil como o tempo de colégio, saudoso como domingos adolescentes, sou o vento soprando maldoso dizendo que as horas se passaram junto com a vida, que mesmo perseguida, chega depois ao seu destino.

E não te esqueces, pois sei que perdíamos horas contando os esquadros das paredes, mais ainda o vento que balança as folhas do coqueiro alto... tudo isso se esconde no bolso do meu paletó quadriculado, envergonhado na minha boina surrada, sapatos marrons de cetim, encorajando as velas e a lentidão dos meus passos.

Estou quieto e compreensivo, nem me lembro de muita coisa que finjo ter existido, mas eu, hoje, rio muito, quando lembro que já fui possessivo.

Um comentário:

  1. Eu li tantos poemas aqui em que você se despedia do blog.
    Mas hoje quem se despede sou eu.

    Você que nem sabe (e nem saberá mais) quem sou, deixo aqui um “Adeus”

    Vou tirar você da agenda, do histórico de busca (tempos modernos) e deixar você ir sumindo dos meus pensamentos, mesmo que aos poucos, mesmo que seja dolorido tanto quanto a solidão que estou sentindo.

    Mas, secretamente o que queria mesmo:

    “Quero todo o teu espaço
    e todo o teu tempo
    Quero todas as tuas horas
    e todos os teus beijos
    Quero toda a tua noite
    e todo o teu silêncio” (Mario Quintana)

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