quinta-feira, 25 de maio de 2017

Um monte de montagens

Sei o que vai parecer, é que o sol do teu braço e teu abraço me faz pensar 'tinha saudade de te conhecer'.
A e menina dos teus olhos, bailarina, tem os sonhos do mundo, se encantou, veja só, pelo soldadinho de chumbo, que insiste em aparecer no meu melhor sorriso.
É que vejo que de vinhos e versos você compõe a sua vida, chegando em cada despedida a sentir que a partida é parte de um plano pouco confiável.
Acho que sente na tua pele, a flor e quase, quase espinho, como rima barata, forçando a dizer que há algo em teu caminho.
É estranho marcar a distância pelo tempo e passar o tempo matando a distância com tua presença, por hora.
Ainda anda o céu pesado, a chuva fina que separa e esvazia a rua, com a luz do poste e tua espera, de olhar distante, constante a decifrar mistério, que não há, a verdade é que queria, ir para onde for, meia-luz ou meia noite, ver teu sol se por.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Envelhecer na cidade.

Pisei em falso no batente da porta, alma de leve me corta... quase fiz barulho.
Cheguei atraso, mas de surpresa, no melhor dia, fazia escuro.
Clarinetas tocavam no meu peito, incontido de felicidade, veria teu sorriso.
Não foi assim que escreveram a canção, o tempo movido por dinheiro e aviões, falhavam nossas memórias.
A pior pergunta, se chegará o dia em que o dia não chegará?
É sorrir e aceitar que o que passou- passou(?) ou chorar pelo que virá...
Desaguei aeroportos, voei navios, embalado pela saudade dos verões, quentes, ascendentes assombrados pelos portões, frios, gelados, quando a verdade me guia pelas ruas empoeiradas e pessoas incompreensíveis, insensíveis...diria no mais tardar da minha solução.
O asfalto cobre todo o chão, olho para os quatro cantos, pássaros encostados no pé do muro, e eu quase que sussurro "vem aqui, vamos voar".
 Por fora não abre, por dentro não tem ninguém, grilhões de ferro e uma escada em caracol, o que sobrou dessa lembrança, uma vizinhança  silenciosa e um senhor que vive sentando na porta, pessoas que, talvez, nunca mais verei...
Cheguei ao topo, já quase vendo seu rosto, engoli um seco, por um instante pensei em voltar, imagine só, sem nunca ter ido, e passado o susto de ter desistido...
Pisei em falso no batente da porta...

Gostaria de dizer e fazer mais do que minha voz e meus movimentos podem, impedem que o teu sorriso e teu furação baguncem meus cabelos e levem todos os papéis e preocupações da minha mesa.
A gente já se sentiu abandonado, com abono e superstição, pensando na vida longa e nessa distância eterna.

Foi num sábado sem sentido que sumiram no ar os poemas mais coerentes que fiz no fim de ano, daquele dia em diante tudo desandou.

Por isso calado e mudo, mudei meus pensamentos, lembranças suicidas que me levam para querer não esperar a vida passar, medo de um dia acordar e não acordar, pois a vida é tudo isso que eu não sei explicar, só que antes, eu não precisava fazer isso, estava feliz demais pra me preocupar com explicações.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

06 dias

A chuva me deixa alegre, alegria perdida que não encontro aqui dentro.
A água caindo, tremula a luz do sol e deixa a tarde mais escura e silenciosa, tudo se movimenta mais devagar, e o vento completa a sinfonia.
Quando vai diminuindo, aos poucos pingos poucos se precipitam do telhado, batendo lento e apavorado no chão molhado, mostrando que as coisas estão se acomodando no firmamento. E em meu pensamento um pouco de tristeza, tão rápido já passou, olho relutante as coisas paradas, plantas e horizontes orvalhados, rindo de mim. Outras valentes gotas d´água se olham covardes à beira da folha, e pulam para determinar que a chuva passou, que a alegria passou, que o chão molhado, agora tanto faz, é só a lembrança do que foi o festejo dos céus.

Pelo calor que vingava, meus poros denunciavam, toda alegria dura pouco e nem todo sofrimento é eterno, mas talvez 06 dias duram mais que uma vida, e uma vida, muitas vezes não vale um dia.

E no final, há quem guarda a chuva, ou usa guarda-chuva, medo da alegria ou medo de se molhar?

terça-feira, 16 de maio de 2017

Naldo e Natália

Ele gritou:
Me sinto só e vazio, quanto mais chove mais faz frio, e os dias vão acumulando fraqueza e peso em minhas costas.
Olho o solar solto do outro lado da rua, como se as nuvens cinzas, que agora anunciam chuva, fossem só preocupação de ter que apertar o passo para procurar o que fazer.
Viver com esse aperto no peito não é bom. E vejo nas imagens seu corpo precipitando no precipício da solidão. Está claro: seu corpo se retorcendo em outros corpos desnudos e celestes, talvez isso nunca saia da mente, nem a saia listrada que usou no dia quente e longo de abril.
Dentro da banheiro de um quarto de motel, como se fosse o céu, desabando no inferno, falta de contorno e moral, no interno, inteiro e intocado, agora não há como dizer, se porque contou a verdade, essa deixou de doer, se assim é melhor do que nunca saber, se quando fecho os olhos posso ver melhor, ou se de olhos abertos nada enxergo, lágrimas e lembranças turvam minha visão.
E eis que no pior momento, sim, à parte disso tudo, pois a vida é natura e ventura que se vai em vãos de tempo e eucaliptos, eu quis recriar nosso caminho, mas parece destino; quem mais ajuda, sempre no quando precisa, tem que se virar sozinho, para mostrar que não era nosso, mas sim meu caminho.

Ela gritou:

A culpa é sua.

sábado, 6 de maio de 2017

Conversão

Tem certos momentos que a gente para e pensa que nada faz sentido, nem a dor que trazemos no peito, nem as alegrias, porventuras pairantes no nosso pensamento mais esquecido. Tem horas que a gente pensa que tudo é sem sentido e em vão, queremos um abraço, apertado que aperte e faça a gente sentir o mundo parar. Tão pequenos somos e nossos desejos tão grandes, quantas e quantas vezes a gente já não se pegou pensando, parado, no quarto, na noite mais fria e solitária de um fevereiro amargo.
Esses momentos nos fazem sentir pequenos, covardes e temerosos, a gente ora e espera que a noite passe tão rápido quanto essa vida ingrata e vazia.

E a justiça pode não fazer sentido, senso ou sensatez, as pessoas não fazem, não foram, não ficam não fogem e não permitem.

Nossa fragilidade desumana, nossos medos mundanos e insanos, de perder e de ganhar, de erguer a mão para bater e apanhar, se proteger do frio e temendo se queimar, sorrir forçado e se segurando para não chorar, amando, mas não querendo amar. Cheio de pecado capital em seu interior.

Mas seguimos em frente, cabisbaixo ou não, errando ou não, porque a vida é sempre incerta, tanto que a gente nem se importa a direção o importante é seguir em frente!