terça-feira, 23 de maio de 2017

Envelhecer na cidade.

Pisei em falso no batente da porta, alma de leve me corta... quase fiz barulho.
Cheguei atraso, mas de surpresa, no melhor dia, fazia escuro.
Clarinetas tocavam no meu peito, incontido de felicidade, veria teu sorriso.
Não foi assim que escreveram a canção, o tempo movido por dinheiro e aviões, falhavam nossas memórias.
A pior pergunta, se chegará o dia em que o dia não chegará?
É sorrir e aceitar que o que passou- passou(?) ou chorar pelo que virá...
Desaguei aeroportos, voei navios, embalado pela saudade dos verões, quentes, ascendentes assombrados pelos portões, frios, gelados, quando a verdade me guia pelas ruas empoeiradas e pessoas incompreensíveis, insensíveis...diria no mais tardar da minha solução.
O asfalto cobre todo o chão, olho para os quatro cantos, pássaros encostados no pé do muro, e eu quase que sussurro "vem aqui, vamos voar".
 Por fora não abre, por dentro não tem ninguém, grilhões de ferro e uma escada em caracol, o que sobrou dessa lembrança, uma vizinhança  silenciosa e um senhor que vive sentando na porta, pessoas que, talvez, nunca mais verei...
Cheguei ao topo, já quase vendo seu rosto, engoli um seco, por um instante pensei em voltar, imagine só, sem nunca ter ido, e passado o susto de ter desistido...
Pisei em falso no batente da porta...

Gostaria de dizer e fazer mais do que minha voz e meus movimentos podem, impedem que o teu sorriso e teu furação baguncem meus cabelos e levem todos os papéis e preocupações da minha mesa.
A gente já se sentiu abandonado, com abono e superstição, pensando na vida longa e nessa distância eterna.

Foi num sábado sem sentido que sumiram no ar os poemas mais coerentes que fiz no fim de ano, daquele dia em diante tudo desandou.

Por isso calado e mudo, mudei meus pensamentos, lembranças suicidas que me levam para querer não esperar a vida passar, medo de um dia acordar e não acordar, pois a vida é tudo isso que eu não sei explicar, só que antes, eu não precisava fazer isso, estava feliz demais pra me preocupar com explicações.

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