sexta-feira, 17 de junho de 2022

O silêncio das palavras

E tua mensagem foi clara, a dor que nos dilata, a infecção que preenche tua casa veio do nada, e se instaurou desde outros tempos.

O sol castiga o caminho de terra, mas dormiu distante, sinto tua presença, mas não sinto teu abraço.

Teu grito de ajuda, e meu desejo imenso de estar ao teu lado, talvez o vencer da tua vergonha, ou pior, talvez sua raiva imensa de mim… Não tenho mais culpa por isso, não passo mais por essa situação, mas ainda resta algo que como se passasse.

Teu arredio e pudor de falar, de algo que já conheço tão bem. No mais louco entendimento, no mais pouco sendo: nos unimos nessa solidão.

Olho teu sorriso no colo, não choro nem me desespero, sei bem o que quero… seja como for, da forma que for ( sendo útil, protetor ou sei lá) o que realmente quero é para sempre orbitar em sua lua, pois a vida passa e eu não sei pensar nela assim.

Os segredos que toda mãe guarda, o amor imenso pelos filhos e as falhas assumidas e da parte dos que partiram, não faço só por ti ou só por mim, mas por tudo que também já passei.


E por fim, depois que tudo estiver bem… te amo. 

domingo, 12 de junho de 2022

O que fica

 Já te vi nos sonhos e do meu lado, já soube dos teus pontos e dos teus embaraços.

Sei que anda com tropeços, fazendo contas e segurando as pontas para esquecer a saudade de quem está longe e não volta nunca mais.

O seu coração está lotado, não tem visto a praça, o cadeado fechado e o medo da chuva. Era que antes, à noite, tudo escondido e perdido, medo das luzes e dos carros parecidos.

E estou vendo no espelho teu olhar sério e concentrado, mas admita; seu coração sente minha presença.

Quando volta ? Quando me aquece ? 


sexta-feira, 3 de junho de 2022

Acordes


Onde minhas palavras e meu silêncio não fazem diferença, - e por isso não te liguei quando a dor mais doía, você não entenderia ou pior, fizesse pouco caso, criasse um embaraço: uma dívida.

Não te falei do que me tira o sono, quem é o mal, o dono dessa angústia.

As pessoas em angústia criam dúvidas das certezas que já tinham. Então você descobre que ao nobre se dá todo o cobre, mas se um pedaço de metal é esquecido, você não tem o reconhecimento merecido - a ele importa a totalidade, o resto podem ser memórias desnecessárias.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Na noite há medo

 Meu coração bate certo e acelerado, te desejo o inesperado e espero sua resposta.

Um coração frio, ainda assim esto aquecido, mesmo esquecido essa noite tende a acabar. Eu te suplico presença, e vejo você viajar em carros com estranhos. Não saem lágrimas de mim, mas ainda assim estou querendo me enganar - se será outro final de semana e vou te ver. 

O cuidado que tivemos, no que pisa o chão, no final do teu curso, do teu susto.

Entre pérolas, porcos e alimento da vida, a serra está distante, mas em qualquer curva eu vejo teu olhar.

sábado, 7 de maio de 2022

Esperando no ponto de ônibus

 Apertei meu passo, gritei que sei viver - os poucos que me escutaram riram, debochadamente desacreditaram, por isso segui em frente (confesso que até duvidei). Mas sem tempo, fui comovido com poucas histórias. Dei esmolas que não me fizeram falta, abençoei às pressas, desejei felicidades com a mão. Orei com todo o fervor de quem tem fé, mas está bastante ocupado. Disse em voz alta que a chuva era uma benção, mas atrapalhava meus planos. Repreendi com força quem disse o santo nome de Deus em vão, do nada bateram no meu carro, meu Deus que cara lerdo do caralho.

Talvez tenha sido desatenção minha, carma, mantra ou destino. Contei com tanta  sorte que o azar desistiu de mim. Passei a vida pálido, sendo fiel aos meus ideais, embora eles mudassem toda semana. Fui um homem exemplar, mesmo eu sendo a minha própria régua e espelho.

E toda essa pressa me trouxe aqui: o fim da vida. Estou orgulhoso de mim mesmo, fingi muito bem ser perfeito, tão bem que eu mesmo me enganei.


terça-feira, 1 de março de 2022

Casa

 Onde é seguro, eu nem falo e nem escuto… extintos meus adornos, sem instinto verbalizo meus transtornos.

Do por-do- sol à calçada, verde limpo e sombrio a sacada: constante sinal que vem da entrada… meus dias são verões.

E do silêncio viajo sem asa, por mais só, ainda, em casa.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Aquarela do teu cabelo

 O vento que passa na janela esfria minhas lembranças… e ainda que a rima seja pobre, lembro do meu tempo de criança… 

Das tardes e temores, dos frios e dos tremores que traziam outras janelas e outros ventos.

Da minha casa eu via preso o mundo, hoje por isso, talvez, prefira meu lar, talvez por isso eu queria o mundo mais quieto.

Ao meio dia conduzia meu corpo fraco ao solstício dos anos que logo se acabariam.

Aos sábados, eu tinha um ponto inerte, um lugar hostil e distante, um canto que eu me sentia feliz.

Domingo, melancólico e finalista, tinha no por do sol meu regresso.

Na segundas da minha existência: eu me arrependo e aprendo que se arrepender não adianta de nada.


terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Um velho amigo

Logo agora meu carro deu problema. Quero voltar para América e ficar no meu canto.

Pensei em você, estava chorando e eu não entendi.

Todas as manhãs a partir de agora vão partir: tirar meu tempo de mim.

Eu me recordo do tempo do meu tempo e de todos e tantos que se foram, vivendo ou existindo.

Existindo nas portas antigas, paredes pintadas com paisagens de bares escondidos e esquecidos no calor do sertão.

Há uma casa vazia e crianças do lado de fora, observando... As janelas se movem e mostram fantasmas, mal sabem eles que são eles mesmos daqui a algum tempo.