sábado, 7 de maio de 2022

Esperando no ponto de ônibus

 Apertei meu passo, gritei que sei viver - os poucos que me escutaram riram, debochadamente desacreditaram, por isso segui em frente (confesso que até duvidei). Mas sem tempo, fui comovido com poucas histórias. Dei esmolas que não me fizeram falta, abençoei às pressas, desejei felicidades com a mão. Orei com todo o fervor de quem tem fé, mas está bastante ocupado. Disse em voz alta que a chuva era uma benção, mas atrapalhava meus planos. Repreendi com força quem disse o santo nome de Deus em vão, do nada bateram no meu carro, meu Deus que cara lerdo do caralho.

Talvez tenha sido desatenção minha, carma, mantra ou destino. Contei com tanta  sorte que o azar desistiu de mim. Passei a vida pálido, sendo fiel aos meus ideais, embora eles mudassem toda semana. Fui um homem exemplar, mesmo eu sendo a minha própria régua e espelho.

E toda essa pressa me trouxe aqui: o fim da vida. Estou orgulhoso de mim mesmo, fingi muito bem ser perfeito, tão bem que eu mesmo me enganei.


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