quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O velho e a moça

Meu verão acabou cedo, nem teve cara de estação, fecundou os teus olhos sombrios o arredio do medo de esquecer. Vi efêmero o resto do rosto, que mudou  ao tempo que perdemos, me tornei estranho e sem esperança, mas é a vida que segue, é o bonde que segue... Agora reconheço pouca coisa nesse teu olhar tão familiar e faminto, sinto, que este recinto é abrigo hostil, quem sabe ainda essa semana eu volte a te procurar, ou daqui há alguns anos quando tudo de novo mudar.


Moça que queria amar, ter filhos e quem sabe ser feliz, aliás, poderia ser uma pergunta. Quem sabe ser feliz?

AH! Moça, quanto tempo nos dará a vida pra aprender esse pouco. E amarga o aperto no peito, moça, de sentar aqui, debaixo da árvore, apreciar o vento de fim de tarde, e ver teu rosto em todos que passam, no canto dos pássaros... Me sinto velho, moça, e você? Debandou pro lado da vida, fez da partida sua morada, e foi embora do interior, voou sonhadora, deve ter no papel escrito doutora, nas bandas do sul, onde faz frio, ou, não sei, sou daqui mesmo, das pessoas conhecidas, que me conhecem, e você? Do mundo, daquele aperto no fundo do peito meu, que se senta comigo na calçada, estação após verão, vendo o que da pra enxergar, mas não vendo o que realmente queria olhar. 
AH! moça, e hoje? Quantos filhos tem? Quantos arrependimentos? Quantos pôde realmente amar? A vida ganhou desta vez, por isso, moça, arrumo meu velho quepe, desarmo minha velha cadeira, retiro meu velho do corpo dessa velha árvore, tão velha quando a cidade, e no pensamento, aquela velha lembrança... E a vida segue, com ou sem mim, e o bonde segue, com ou sem mim...

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