terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Pesadelos noturnos

Vou te contar uma história:

Ele me acordou ás 12:29, pediu para cantar uma música que eu já conhecia, mas que não gostaria de ouvir naquele momento, tive que repreendê-lo, afinal, notas velhas esquecidas num passado recente não são comumente entendidas pelos ouvidos dispostos ao novo.

Ele insistiu de novo, viu que o barulho dos meus lábios eram de perdão e continuou a insistir que eu deveria ouvir, apertando cada vez mais forte o ar dos meus pulmões, machucando meu coração, como se soubesse tudo de mim. Ele não tem compaixão, sabe que a chave do esquecimento é o esquecimento, ainda que forçado, ardido, urdido, necessitado, mas ao revés; encontra no meu olhar e medo fraqueza suficiente par estragar meu dia.

Como lutar contra esse ser humano tão ruim, baixo e miserável? Que me apavora a cada manhã, que a noite faz questão de me incomodar, com seu cigarro podre, sua bebida incômoda, arrastando os móveis da minha mente. Onde ponho minha mão, ele a faz tremer, onde descanso os olhos ele faz chover, onde repreendo malícias, ele grita delícias, nem sempre está comigo, pois dobro certas esquinas e ele se perde, mas quando me vejo em campo aberto, praça ou deserto, ele, esperto, está lá a sorrir para mim, me esperando de braços abertos. Eu, fadigado e sem forças pra fugir, me deito ali, chorando e pedindo consolo, mas ele a cada pouco enfia uma faca cega, e prega que a dor é a melhor saída para a solidão, que o vinho seco não é amargo, que essa vida é um trago em cigarro de menta, que se eu estrago é porque alguém tenta remediar meus pesadelos noturnos.

Ele é indiferente, mais forte e mais fraco, bizarro e insensível, invisível quando quer, mas tão real e presente, ele é a pessoa que mais me fere, que me destrói, me tira da luz e me deixa no breu, e o pior de tudo é que essa pessoa sou eu.

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