terça-feira, 29 de setembro de 2015

Quando me fui querendo voltar (nunca ter ido)

Ataram a mão do poeta, não deixaram ele escrever, mesmo assim cravou palavras e sua voz se fez poesia.
Travou-lhe, em dado momento, a garganta de fria especulativa amargura, tiraram-lhe a voz.
Mas enquanto seu olhar contemplava, amordaçado, o céu azul e quente, de repente, fugiu uma lágrima e se deu poesia na sua retina, de sol e nuvens brancas, como se cintila esperança no verde que por aí há.
Fervorosos lhe deram escuridão, que não se fizesse fotossíntese jamais nas naus de suas íris, que de nada emanasse luz do breu que lhe afligia, mergulhando no sono dos conscientes.
Convém o cheiro, então, das rosas e brumas, máquinas e borrões de tinta, dentro unicamente de si mesmo, devastado por mil lembranças que invadiam seus poros e sentires, sabores e solidão.
Como um corte rápido de uma águia de pousa, também disso lhe privaram, agora era poeta sem sentido, confuso perguntava-se, se poeta era porque diziam, ou poeta era porque sabia?
Era, ele, poeta quando suas poesias inundavam os corações alheios ou quando seu coração transbordava dela?
Se era poeta pelo coração doutros- não era poeta- a poesia era deles, não passava de mero fio conduto.
Se era poeta pelo seu coração- egoísta, como não?- pois era fonte retentora de algo que jamais deveria lhe pertencer.

Não há resposta, não por não saber, talvez, mas por faltar-lhe tempo, cortaram-lhe a cabeça, se foi o poeta louco e arredio, sem completar seus planos... 

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