sexta-feira, 1 de julho de 2016

Tonotomia.

Estou escondido por trás do meu óculos escuro, daqui ninguém me vê, ninguém me nota.
Fui ao banco, li um jornal, caminho calado, sem pressa e com determinação.
Apalpei meus bolsos, percebi que tinha esquecido a carteira, saí sem pagar o café, o filho do dono do café me olhou com a cara feia, pedi desculpas e voltei ao trajeto.
A chuva apertou meu passo, que agora era com pressa, molhou meu blazer, ensopou meus sapatos surrados, que há de se fazer? Por o jornal na cabeça, atravessar a rua corrento, rezando para que os carros parem.
Felizmente cheguei ao meu destino, trabalhei sem cansar, sem que me pudesse cansar, até meio dia, depois voltei para o ponto de ônibus (que não paguei, é claro, a carteira estava em casa), lá, agora, era hora da reflexão, agora podia filosofar e lamentar a vida, já que não iria trabalhar a tarde, teria a tarde livre para dormir, não iria me sobrar tempo para as angústias. Depois, lá pelas cinco da tarde, que acordei, liguei a TV nesses programas policiais e sem qualquer surpresa ou inquietação, vi a noticia de que um ladrão havia sido preso com várias carteiras roubadas, uma delas era a minha, e o ladrão, era o André, aquele, esse mesmo, o filho do dono do café.

2 comentários:

  1. A magia das crônicas... A monotonia de todo o texto e a surpresa nas ultimas linhas. Gostei! Você e esses seus dons! ��

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